sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Middle Act




A peça.
Quando se acenderam as luzes, o incrível público estava lá! Sentado sobre um alto trono elevado em uma pequena escadaria, o Eu acenava para todos os lados, com um sorriso mascarado em mãos.

Um estrondoso anfiteatro abria-se na plateia! Lugares lotados com bonecos sem expressão, todos iguais em tons de cinza com dentes amostra, moldados de palha e falsidade. Atrás do trono, alguns espectadores jogavam cordas, gritando para que eu pulasse e ouvisse-os, gritavam “Fuja! Fuja! Venha conosco, teus protetores!” Mas era teimoso, afinal, quem mais presenciaria o espetáculo de minha vida!

Com uma escuridão repentina, passos surgiram no corredor de apresentação. Cinco indivíduos invadiram o salão central, todos em trajes iguais, com um paletó social firmando um busto na parte de cima, e um vestido de noiva e um falo balançante abaixo das vestes.

Cada um mascarava-se diferentemente, distinguindo seus papéis, ou seriam entidades?

A alegria sorridente, A tristeza chorosa, A ironia sarcástica, A raiva imparável, A esperança sem face.
Como se não visse nada, o Eu ficou parado e estático. 

Sua mente deu vida.

A ironia saltou em um órgão no canto da parede e iniciou a trágica peça da vida, tocando uma música ainda triste mas agitada. A alegria puxou a tristeza para dançar, enquanto ria e sorria alegremente brincando com todos na festa, entretanto, a tristeza evitava os olhares e se escondia da melhor forma.

Mas todos os convidados eram cegos! Nenhum deles conseguia ver o quanto ela chorava por dentro, e sangrava!

Vez ou outra, algum convidado chegava ao lado do trono e tirava algumas fotos para postar em algum lugar, ou conversava baboseira, ria e ia embora, sempre periodicamente tentando agradar o anfitrião.

A esperança sentou no centro do salão e lá ficou, esperando como sempre, sendo pisoteada algumas vezes, mas persistente em seu objetivo. A raiva gritava para as paredes e quebrava móveis, o mais estranho era que som nenhum era produzido em sua destruição. Ela era imparável, inconsumável, incessante, mas silenciosa.

E então, ela entrou. Com ela, a luz da Lua banhou o ambiente. Com ela, todas as emoções exaltaram-se, ou morreram de vez. O Eu desviou seu olhar e atentamente acompanhava seus movimentos. Estava nua, com o corpo do jeito que sempre, usando duas meias altas, uma na altura do joelho e a outra mal calçada.

A ironia começou a tocar uma nova sinfonia, macabra, fúnebre, lenta e hipnotizante, enquanto sorria com o canto da boca.

A raiva saltou tentando atacar, tentando acertar, ferindo a todos, ferindo à si mesma no processo, vários bonecos entravam atrás dela. Ela não conseguia acertá-la ou sequer queria, mas eles sofreram...

A tristeza caiu em prantos, só de observar ou contemplar sua presença a fazia implorar para cegar-se no exato momento, ela escondia-se atrás da alegria, que ria inadvertidamente como se nunca estivesse mais feliz. Ambas exercendo papéis totalmente opostos os quais foram escolhidas, em seu extremismo e expressão mais puras e sucintas possíveis.

A esperança arrastava-se. Sem suas pernas o movimento era limitado, mas nada mais importava, que a dor, os convidados e seus pisoteios, os maus-tratos e os comentários maldosos proferissem, era somente para isso que ela vivia, e nunca desistiria. Ela olhou para baixo como se mal visse a esperança, e quando pensou em aproximar-se...

A raiva apunhalou a esperança pelas costas. E eu acordei ofegante.

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