Deixe isso de lado...ao meu lado. Diga-me, o que eles
fizeram?
Passado um tempo, não via mais nada além de água. Não sentia
nada além de vento, e dor.
Meus pés estão calejados de tanto caminhar neste convés
traiçoeiro, com o piso rangendo ao som da tempestade e o chão escorregadio. Ainda
assim, eu persisti durante ela...
Desci velas, fiz minha trajetória de boreste à bombordo
procurando por uma salvação, a luz, a esperança, a continuidade e crença de que
além deste horizonte, está algo para me fazer viver.
Segure-me...até que eu durma...
Ah, e as noites, as noites curtas e sussurrantes sobre minha
mente. Não posso deitar sem ver todos os fantasmas do meu passado, presente e
futuro, como bonecos dançantes sobre a luz do luar. Acordo dos meus sonhos para
caminhar com os mortos.
Como poderia Zaratustra me açoitar, sabendo que não durmo tranqüilo
esta noite. Sem minhas lições diárias, ensinamentos, sabedorias, eu deitava e
acordava mais vazio.
Ainda assim, naveguei.
Sua pegada lamentava por mim, e eu agarrava o convés,
urrando por comida, água. Vinte dias comendo pão duro, fingindo ser “lembas”.
Dez dias bebendo água salgada, com gosto de vinho e liberdade.
Até que eu durma.
A vida parecia desaparecer, gradualmente, todo o mundo
queria ficar na escuridão, mas não o meu. Meio a nuvens e trovões, tão cinzas
quanto meus tons de vida. Mas eu? Sempre admirava o azul atrás do castigo, da
dor, da camada do tempo que me separa do meu eu.
E aí eu corria para o passadiço e continuava minha jornada,
entoando canções mais velhas que eu próprio, entoando minha força de vontade e
atravessando quaisquer um que ouse contrapor-me à ela. Ela.
Ninguém mais poderia me salvar, eram minhas escolhas,
meus passos, meu pensamento. Ele evoluiu afiado como a navalha presa à minha cintura,
ansioso por qualquer oportunidade de mostrar-se mortal.
A morte...e a raiva.
Motivadores, encantadores, como citei anteriormente à luz do
luar. E no começo do terceiro mês, a Lua surgiu cheia. Solo basáltico
refletindo os astros, e a minha amada, um sorriso apaixonado, um brilho pálido
em meio à toda aquelas nuvens.
Ela veio e me disse, “Não quero você morto, e sim vivo”.
E eu estou, em chamas, quase a ponto de explodir, tentando
liberar tudo o que me compõe em palavras bobas e particulares, com prosas e
versos sem rima. Mas quem preocupa-se em agradar os outros, não agrada a si.
A voz me dizia para dormir, largar tudo, desistir.
Agarrei-me nela, e com meu punhal desferi um corte certeiro
em sua garganta, e disse:
“Nunca”.
Já posso dormir novamente. Ventos generosos e sua companhia
me trouxeram até esta ilha, em algum lugar você está. Eu vou te caçar, nem que
seja a última coisa a fazer, ou a primeira de muitas...
Que texto mais lindo!!! Senti o navergar de tuas palavras e o alvoroçar dos sonhos. O barco balança enquanto as ideias se misturam e unem-se de mãos dadas para realizarem-se no Além-mar... deveras comovente!!!
ResponderExcluirObrigado pelas consideracoes Samantha...de vez em quando sai algo bom assim...
ExcluirConcordo com a Samantha, texto bonito pra ser lido numa praia, com uma cerveja e escutando Song To The Siren, com a voz do Robert Plant. Vou ver se volto aqui mais vezes. Abraço.
ResponderExcluirMarlon.